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Tela do futuro

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Raul Garcez


Histórias paralelas

Marcio Garcez, 40 anos, diretor de bens de consumo, mídia e entretenimento do Google Brasil

Marcio Garcez, 40 anos, diretor de bens de consumo, mídia e entretenimento do Google Brasil

Existe o mito de que a televisão estaria perdendo audiência. Na verdade, acho que ela está ganhando cada vez mais – só que agora ela é multiplataforma. A televisão brasileira talvez conte histórias melhor do que qualquer outra, mas estas começam a ser consumidas também nos tablets, celulares e nas televisões inteligentes. Os produtores de conteúdo precisam encarar esse cenário como uma nova janela para o storytelling. A novela, um campeão de audiência, vai continuar novela, mas não só na TV. Encontrar histórias paralelas na internet é um caminho, com material extra que dê a chance de o consumidor interagir mais com o produto. Vivemos o fenômeno do microcasting a partir da popularização das câmeras digitais e dos smartphones que permitem fazer vídeos. As pessoas passam a gravar suas próprias vidas e disponibilizá-las em plataformas como o YouTube. A essência do YouTube é o microcasting. Essa tecnologia deu poder de manifestação às pessoas. É inevitável citar as blogueiras de moda e maquiagem. A brasileira Camila Coelho, por exemplo, é uma vlogger que fala com a massa. Essas meninas viraram celebridades disputadas pelas marcas tanto quanto as personalidades da TV. Tudo isso pra criar um elo de identificação e atingir esse consumidor que hoje é super on-line.


Onipresença

Sergio Valente, 50 anos, diretor de comunicação da Globo

Sergio Valente, 50 anos, diretor de comunicação da Globo

Para a Globo, o futuro da televisão é claro: estar perto das pessoas e ser relevante para elas. As pessoas precisam ter acesso ao conteúdo da Globo onde e como elas quiserem. Precisamos ser acessíveis em todas as telas, em todos os lugares e momentos. Estamos no negócio de entreter, informar e divertir e temos que fazer isso com o máximo de qualidade. Temos que ser relevantes para ser comentados, criticados, admirados, seguidos e curtidos. Essa relevância virá da nossa qualidade de produção, de criatividade, de inovação; do roteiro à atuação, da busca da informação à sua análise. Em todas as áreas de conteúdo da Globo – seja no jornalismo, no esporte, no entretenimento, na comunicação –, estamos focados na busca dessa qualidade. 

 

Geração multiconectada

Carlos Augusto Montenegro, 60 anos, presidente do Grupo Ibope

Carlos Augusto Montenegro, 60 anos, presidente do Grupo Ibope

A TV reinou soberana nos anos 70 e 80. Na década de 90, assistimos ao início de uma revolução. Primeiro, com a chegada da TV paga em 1991, e, em seguida, da internet. No início ambas eram privilégio de poucos, mas foram se popularizando e hoje estão presentes em grande parte do país. Com a adesão a smartphones e tablets, a internet já pode ser acessada de todos os locais, o que tem mudado os hábitos dos brasileiros. O conteúdo televisivo, que influenciava a interação social à mesa de jantar, passou a ser discutido também nas redes sociais. Para essa geração multiconectada, acessar a internet enquanto assiste à televisão é um hábito frequente que vem se intensificando. O estudo “Social TV”, do Ibope Media, mostra que, nas principais metrópoles brasileiras, pelo menos 6 milhões de pessoas realizam as duas atividades simultaneamente – número quase duas vezes maior do que os 8,7 milhões registrados na versão anterior da pesquisa, divulgada em 2012. Novas formas de consumo ganham espaço. Pelo menos 5% da população afirma ter assistido à TV pela internet nos últimos 30 dias. Ver os seus programas preferidos em horários diferentes dos que foram exibidos é uma realidade para 4% da população brasileira. Destes, mais de 70% gravam pelo aparelho de TV por assinatura, enquanto 13% usam o próprio televisor e 12% utilizam o gravador acoplado ao televisor. Quem imaginaria, há 20 anos, esse cenário? Assistir à TV pelo celular era coisa de filme de ficção científica, mas agora esse tipo de recepção está se expandindo na América Latina. No Brasil, 12% dos portadores de celular afirmam ter essa ferramenta e 42% deles efetivamente a utilizam. Simultaneidade e convergência são as palavras-chave nesse novo contexto midiático.


Série própria

Viniciu Losacco, 39 anos, vice-presidente de marketing da Netflix para a América Latina

Viniciu Losacco, 39 anos, vice-presidente de marketing da Netflix para a América Latina

As empresas de televisão terão que se adaptar, abraçar novas mídias e arriscar. A TV americana mudou muito nos últimos anos a partir do momento em que a Netflix entrou no mercado com a estratégia de criar sua própria série – House of Cards – e disponibilizar todos os capítulos de uma só vez para o espectador ver quando e como ele quiser. Houve uma demanda maior por conteúdo de qualidade. Acho que vai continuar existindo espaço para todo mundo crescer: TV aberta, por assinatura e internet. 


TV é passado

Rafucko, 28 anos, ativista e dono de um canal no YouTube

Rafucko, 28 anos, ativista e dono de um canal no YouTube

A TV vai perder o posto central que ocupa na sala e nas famílias. Por que ser refém de uma programação estática quando se pode ter qualquer conteúdo a qualquer momento – e sem intervalos comerciais? Durante a Copa de 2010, uma campanha foi iniciada no Twitter: CALA BOCA GALVÃO. Foi o assunto mais comentado na rede por dez dias, em escala mundial. Até que o próprio Galvão Bueno foi obrigado a comentar – de forma torta, agradecendo o “carinho dos fãs” – a campanha de pessoas que não suportavam mais a sua voz. Foi um dos primeiros episódios em que a “segunda tela” pautou tão claramente a primeira, no Brasil. Pra mim, a TV já está no passado. E, no presente, se eu mandar ela calar a boca, até consigo. 


TV na nuvem

Eugênio Bucci, 55 anos, é professor de jornalismo da ECA-USP e autor do livro Brasil em tempos de TV (ed. Boitempo)

Eugênio Bucci, 55 anos, é professor de jornalismo da ECA-USP e autor do livro Brasil em tempos de TV (ed. Boitempo)

Para onde vai a TV? Melhor entender antes de onde ela veio. A TV nasceu para mostrar a imagem em movimento e ao vivo. A tecnologia não inventou a TV, apenas a viabilizou. O advento das ondas eletromagnéticas para a transmissão ao vivo de cenas móveis instaurou a “instância da imagem ao vivo”, dentro da qual a humanidade caminha até hoje. Não, a internet não revogou a “instância da imagem ao vivo”, apenas deu a ela nova potência. Internet é TV expandida. Nós vemos vídeos na web. Vemos filmes no celular, filmes interativos (ditos games), clipes no relógio de pulso. Fazemos striptease por Skype. Para onde vai a TV, então? Ora, ela vai para a nuvem. Para o ciberespaço, para a parede da cozinha, para o painel do carro novo. Ainda estará por aí por mais um tempo, como bom capítulo que é da revolução iniciada por Gutenberg, e que ainda está tão longe de chegar ao seu epílogo. Para onde quer que você vá, a TV já estará lá. Ou você acredita que existe meditação além da imagem eletrônica?

 

Ponto de encontro

Fernando Magalhães, 47 anos, diretor de programação da NET

Fernando Magalhães, 47 anos, diretor de programação da NET

A TV não vai, ela fica. E cresce e se consolida como ponto de encontro da família para ver filmes, novelas e esportes em altíssima definição. E os tablets? E os celulares? Esses vão servir para matar a saudade da TV quando estivermos longe da sala ou quando quisermos ficar sozinhos ou distantes.

 

Conteúdo que migra

Daniel Conti, 41 anos, CEO da Vice Brasil

Daniel Conti, 41 anos, CEO da Vice Brasil

A TV segue na sala, no quarto, em locais públicos. E nas lojas de eletroeletrônicos, com a demanda e cada vez mais opções de devices e diferenciais. Soma-se a isso um comportamento sedimentado nas classes mais baixas e regiões não metropolitanas, que dará à TV aberta uma longa vida ainda. Já o conteúdo, esse vai para onde estivermos. Por mais que no passado a indústria da mídia tenha sinalizado certo receio quanto ao conteúdo nos smartphones, é aí que ele seguirá majoritariamente reinando. Computadores, tablets e novas formas de hardwares serão as outras opções de palco para o nosso ator, o conteúdo. E o conteúdo seguirá rompendo a linearidade das grades de programação, embora essa postura passiva de assistir também se mantenha, como um dos momentos de relax do indivíduo bombardeado por dados.

 

De graça

Phillipe Carrasco, 35 anos, gerente de conteúdo multiplataforma do SBT

Phillipe Carrasco, 35 anos, gerente de conteúdo multiplataforma do SBT

A televisão aberta nunca esteve tão forte, com mais de 98% de penetração nos domicílios brasileiros. Se fosse inventada hoje, seria a coisa mais genial, porque é conteúdo diverso e de graça. As pessoas assistem à TV porque querem saber o que acontece em tempo real. No futuro deve haver um crescimento muito grande do jornalismo, do entretenimento ao vivo e dos eventos ao vivo. Também haverá um crescimento grande da dramaturgia e do mesmo conteúdo empacotado de diferentes formas. Chiquititas, do SBT, por exemplo, é vista várias vezes. A mesma criança vê no ar, porque não quer perder o capítulo, e no dia seguinte assiste de novo na internet. A TV aberta tem força porque sabe produzir conteúdo. É impossível comparar sua qualidade com a do que é feito por um YouTuber. Outra vantagem é ter conteúdo em português. No Brasil são poucos os que conseguem entender um programa em inglês, e a maioria não gosta de legendas. 

 

Colaborativa e conectada

Rafael Vilela, 25 anos, fotógrafo e editor da Mídia Ninja

Rafael Vilela, 25 anos, fotógrafo e editor da Mídia Ninja

A TV precisa chegar ao século 21 sendo colaborativa, em rede e conectada com as questões de nosso tempo. A Mídia Ninja passou por um processo de aprofundamento de suas pautas e de busca por narrativas mais complexas. É uma reação que nos leva às origens de nosso trabalho, à PÓSTV, nossa webtelevisão criada na rede Fora do Eixo, que transmitiu ao vivo e de forma pioneira a Marcha da Liberdade em São Paulo em 2011. A rede se distribuiu por todo o território nacional, dando visibilidade a temas fora do circuito tradicional. É a baixa resolução e a alta fidelidade, a TV feita na base da gambiarra, desmonetarizada, mas que fala para muita gente. Nossos desafios agora são qualificar a grade de programação e completar o ciclo de 24 horas on-line, com documentários, programas de entrevistas, inserções de rua e outros formatos.

 

Muito bem, obrigado

 

Zico Goés, 50 anos, diretor de conteúdo da FOX International Channels Brasil

Zico Goés, 50 anos, diretor de conteúdo da FOX International Channels Brasil

Sempre que me perguntam sobre o futuro da TV parece que a premissa é: a TV está acabando, né? As novas mídias estão fazendo o “sertão virar mar e o mar virar sertão”. Pois respondo: a TV vai muito bem, obrigado. Contar histórias, emocionar pessoas e engajar gerações ainda é papel dos criadores de conteúdo. Ou seja, de quem faz TV. A FOX entende as mudanças de hábitos de consumo e desenvolveu o FOX Play, uma plataforma on-line com o que oferecemos em nossas transmissões televisivas. Damos a opção aos nossos telespectadores de consumir o conteúdo do canal quando, onde e como quiserem. Mas, essencialmente, muda pouco o relacionamento. O consumidor ainda quer se emocionar e se engajar com produtos relevantes e de qualidade – e isso é o que a TV deve continuar fazendo por muito tempo.

 


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